A realização da mostra foi possível devido a uma parceria firmada entre o Museu Nacional/UFRJ e o Centro Cultural Museu Casa da Moeda do Brasil, localizado na Praça da República, centro do Rio de Janeiro, no edifício que ao longo de grande parte do século XIX foi a sede do Museu Nacional, o que configurou um ato simbólico. A mostra iria ser realizada no Palácio de São Cristóvão em 2018, mas por conta do incêndio do dia 2 de setembro do mesmo ano, foi adaptada ao novo espaço, levando em consideração que parte do acervo não havia sido atingida pelo fogo e que havia viabilidade de produzir o material necessário para sua realização.
A exposição tinha como objetivo apresentar descobertas de temporadas de pesquisas de campo realizadas durante os anos de 2015-2018. Nesse período, 20 pesquisadores de diferentes instituições brasileiras diretamente ligados ao projeto PALEOANTAR, sediado no Museu Nacional/UFRJ, se deslocaram para a Antártica, áreas situadas abaixo do paralelo 60º para a coleta de fósseis. Segundo a Curadora, o projeto tem como objetivo prospectar e coletar fósseis na Península Antártica para fins de reconstrução paleoclimática, paleoambiental e paleobiogeográfica da fauna e flora do Período Cretáceo, remontando uma Antártica tropical de 90 milhões de anos atrás.
A exposição foi organizada em três espaços; ao entrar no edifício, os visitantes encontravam o hall de entrada, que era utilizado como espaço de acolhimento; havia um painel introdutório sobre a exposição, um painel que apresentava de forma breve a história do Museu Nacional e abordava um pouco da situação da instituição após o incêndio, além de alguns fragmentos de troncos fossilizados resgatados dos escombros do Palácio. Como destaque, no vão de pé direito duplo, havia modelos de dois “monstros” marinhos que habitavam os mares da região no final do Período Cretáceo, um Mosassauro caçando e um Tubarão.
Seguindo adiante, a primeira sala explicava a trajetória feita pelos pelos pesquisadores para chegarem à Antártica, os equipamentos levados assim como a ambientação de um acampamento, permitindo que os visitantes tivessem um pouco da experiência do dia a dia no continente gelado. Parte da biodiversidade existente atualmente no continente também era apresentada por meio de animais taxidermizados e esqueletos.
A segunda sala contextualizava o passado do continente; um ponto fundamental destacado era o processo de Deriva Continental, ao qual os continentes sobre as placas tectônicas, estão em constante movimento sobre o magma da Terra, e por esse motivo a Antártica nem sempre foi isolada no polo sul do planeta. Dependendo do período geológico, é difícil de ser tratada de modo isolado como um único continente, estando agrupada com outras massas de terra e possuindo até hoje vestígios de suas conexões com outras regiões do globo. Alguns desses vestígios foram encontrados pelos pesquisadores e apresentados ao público na mostra, como algumas espécies de animais invertebrados, em especial conchas de moluscos que demonstram a grande diversidade e abundância destes seres nos mares antigos. Os mais encontrados, normalmente fossilizados, são os amonóideos e os nautilóides, que são animais com uma concha espiralada externa ao seu corpo. Quanto a animais vertebrados, foram expostos dentes de tubarões e fragmentos fósseis de Plesiossauros, que também contava com um modelo de reconstituição em vida.
Outros exemplares fósseis são o de plantas, dentre elas samambaias e pinheiros, que contam uma história diferente do cenário atual da Antártica, em que, no passado, ao menos partes do continente, eram cobertas por extensas florestas tropicais e úmidas, sendo testemunhas de mudanças climáticas ocorridas no continente ao longo de milhões de anos. Além disso, foram encontrados vestígios de carvão vegetal macroscópico, facilmente preservado nas rochas, por isso é um indicador do clima no passado, mostrando a presença de temperaturas elevadas e clima seco, que levam a ocorrência de incêndios, que por sua vez modificam várias características do solo que influenciam no desenvolvimento das plantas, alterando, por consequência, a biodiversidade naquele local.
Por fim, era apresentada a micropaleontologia, área encarregada do estudo dos microfósseis, que são um grupo de organismos extremamente pequenos que viveram no passado da Terra. Os microfósseis habitaram os mais diferentes ambientes, cada um deles tendo sido ocupado por grupos específicos. Devido a isso, o estudo micropaleontológico associado a alguns métodos geológicos nos dá informações do paleoclima, salinidade, profundidade de mares antigos, disponibilidade de nutrientes e composição e diversidade da biota do passado.